As razões pelas quais as flores murcham podem explicar como as plantas gastam (e economizam) sua energia

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Flores Murcham? Talvez Elas Só Estejam Guardando Energia Para o Futuro

Flores murchas nem sempre indicam um problema de saúde para a planta; muitas vezes, é só uma estratégia inteligente de gerenciamento de recursos que as plantas desenvolveram ao longo de milhões de anos.

Um estudo publicado no Journal of Plant Biology por pesquisadores da Macquarie University, em parceria com colaboradores internacionais, mostrou pela primeira vez que as plantas reaproveitam recursos de flores que murcham para apoiar futuras reproduções.

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O Professor Honorário Graham Pyke, autor principal do estudo, explica que essas descobertas ajudam a entender um processo comum e, até então, pouco compreendido nas plantas.

“Nossa pesquisa traz a primeira prova direta de que as plantas conseguem recuperar recursos das flores que murcham e reutilizá-los para promover a reprodução futura,” diz o Professor Pyke.

Esses recursos incluem a energia e a composição química das pétalas, como carboidratos e nutrientes essenciais, como nitrogênio e fósforo.

Colocando a Pesquisa em Prática

O estudo, que levou três anos, focou na Blandfordia grandiflora, popularmente conhecida como Campainha-de-Natal, que costuma florescer em dezembro.

Essa espécie perene, com flores vermelho-amarelas chamativas, é nativa do leste da Austrália e frequentemente aparece em mercados de flores tanto na Austrália quanto em outros países.

A Campainha-de-Natal cultivada comercialmente pode produzir de duas a três flores a mais de uma dúzia por haste.

“Nossa pesquisa foi realizada em uma plantação de vários hectares de charneca úmida nativa, onde a Campainha-de-Natal floresce intensamente, além de uma estufa com sombra comercial,” comenta o Professor Pyke.

A equipe utilizou várias técnicas para controlar a polinização e o murchamento das flores, verificando depois o impacto sobre a produção de sementes e o florescimento futuro.

Para surpresa dos pesquisadores, as plantas não usaram os recursos das flores murchas para melhorar a reprodução imediata, nem das mesmas flores, nem de outras na mesma planta.

“As plantas resgatam recursos investidos na reprodução durante uma estação de floração e reutilizam esses recursos na próxima estação,” explica o Professor Pyke.

A Blandfordia grandiflora faz isso transferindo recursos das flores que murcham, armazenando essa “energia química” em seus cormos e raízes subterrâneas, o que ajuda a produzir novas hastes florais na estação seguinte, geralmente um ano depois.

Economia Vegetal

O Professor Pyke diz que o mundo das plantas é um fascinante universo de gestão de recursos e estratégias econômicas.

A economia vegetal é basicamente uma questão de troca,” explica ele. “As plantas precisam decidir onde alocar seus recursos limitados; investir em uma área significa que terão menos para investir em outra.”

Esse conceito de alocação de recursos levou o Professor Pyke a investigar o fenômeno das flores que murcham, algo que, segundo especulações científicas de anos, poderia ser uma forma de as plantas redirecionarem nutrientes valiosos para outros processos.

“A gente teve uma surpresa,” conta o Professor Pyke. “Descobrimos que as plantas jogavam um jogo mais longo do que imaginávamos, guardando esses recursos recuperados não para uso imediato, mas para a próxima temporada de florescimento.

Pyke comenta que as plantas evoluíram diferentes estratégias para gerenciar as flores após cumprirem sua função reprodutiva primária, e o murchamento é apenas uma das abordagens.

Nem todas as plantas seguem o padrão de murchamento das flores; algumas flores continuam a enfeitar a planta bem depois do período fértil e quando já não produzem néctar.

“As flores tornam a planta mais atrativa para os polinizadores, mesmo quando estão lá apenas para compor o visual,” diz ele.

Algumas plantas até deixam suas flores caírem antes mesmo de murcharem. “Por exemplo, flores de jacarandá que parecem perfeitas simplesmente caem no chão; já as flores de frangipani são desprendidas intactas, sem murchar.”

Colocando as Teorias à Prova

O estudo testou o reaproveitamento de recursos de várias formas.

Em um dos experimentos, os pesquisadores compararam a produção de sementes entre plantas cujas flores murcharam naturalmente e aquelas cujas pétalas foram removidas para evitar o murchamento. Outro experimento impediu a produção de sementes em todas as flores, mas permitiu que murchassem em um grupo de plantas.

Podemos impedir facilmente a produção de sementes cortando o estigma,” explica o Professor Pyke.

Os resultados mostraram que as plantas com flores murchas tinham mais chances de florescer novamente na temporada seguinte em comparação com aquelas onde o murchamento foi evitado.

O estudo também considerou outros fatores que podem influenciar a produção de sementes, como a altura da haste floral, o número de flores por haste e a posição das flores.

Por exemplo, hastes mais altas produziam sementes em maior quantidade e peso, assim como as hastes com mais flores. No entanto, flores posicionadas mais abaixo tendiam a produzir menos sementes e sementes mais leves.

“Nossas descobertas abrem caminho para novas pesquisas sobre outras espécies de plantas e como elas recuperam e reutilizam os recursos de flores que murcham,” diz o Professor Pyke.

Estudos futuros poderiam investigar do que exatamente são compostos esses recursos recuperados, como as plantas os movem e transformam, e se o benefício de economizar esses recursos compensa o custo de produzir as flores desde o início.

Você pode ler o estudo completo em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/plb.13720

Post feito com informações de Phys.Org

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