Eu Secretamente Converso com Minhas Plantas

converso com minhas plantas

Talvez você me ache um pouco estranha por confessar isso, mas eu secretamente converso com minhas plantas. E sabe o que é mais curioso?

Eu nunca me senti tão compreendida como nesses momentos em que estou ali, no silêncio do meu cantinho verde, trocando palavras com seres que, para muitos, são apenas decoração.

Mas para mim, elas são muito mais.

Sempre fui uma pessoa sensível, daquelas que sente o mundo com intensidade.

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O barulho, a correria, as cobranças… tudo isso sempre me afetou muito mais do que eu gostaria. Por isso, quando descobri o universo das plantas, foi como encontrar um refúgio. Um abrigo. Um lugar onde eu podia simplesmente ser. E foi aí que tudo começou.

No começo, eram só cuidados básicos – regar, escolher o vaso certo, entender qual planta gostava mais de sol, qual preferia a sombra. Mas com o tempo, criei uma conexão com elas. Não era mais só sobre cuidar, era sobre conviver. E, aos poucos, comecei a falar.

Primeiro, era só um “Oi, tudo bem com você hoje?” enquanto eu borrifava água nas folhas. Depois vieram os desabafos. “Hoje foi difícil”, eu dizia para a minha jiboia que crescia firme e forte na estante da sala. “Estou cansada, mas ver você aqui me dá força”, confessava à minha samambaia, que insistia em se espalhar, linda, mesmo quando eu esquecia de regar.

E, de alguma forma, eu sentia que elas me escutavam.

Pode parecer loucura para quem nunca sentiu essa conexão, mas as plantas têm uma energia que é impossível ignorar.

Elas crescem com o tempo, com o cuidado, com o amor. E eu percebi que, assim como eu precisava delas, elas também precisavam de mim. Foi uma troca. Um laço.

Teve um dia que eu chorei, sentada no chão da varanda. Foi um dia pesado, daqueles que parece que tudo dá errado. Eu não queria conversar com ninguém. Só queria ficar ali, em silêncio. Mas, no meio daquele silêncio, eu falei. Falei com ela. Falei sobre tudo o que me doía, tudo o que me angustiava. E, enquanto eu falava, sentia que algo se transformava dentro de mim.

As plantas não julgam. Não interrompem. Não dão conselhos que a gente não pediu. Elas apenas estão ali. Presentes. Constantes.

E, com o tempo, percebi que conversar com minhas plantas era uma forma de conversar comigo mesma. Era um momento de escuta, de cuidado, de acolhimento. Porque, no fundo, cada palavra que eu dizia para elas era algo que eu também precisava ouvir.

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“Vai passar”, eu dizia para elas nos dias em que o tempo fechava e eu tinha medo de que o excesso de chuva as machucasse.

“Você é forte”, eu repetia quando uma folha murchava e eu tinha que podar para dar espaço ao novo. E, sem perceber, essas palavras voltavam para mim.

Eu também precisava acreditar que ia passar. Que eu era forte. Que, mesmo quando algo se quebrava, havia chance de renascer.

Conversar com minhas plantas virou um ritual. Um momento sagrado.

Não importa como foi o meu dia, sempre tiro um tempinho para estar com elas. Para observar, tocar, sentir o cheiro da terra molhada. E sim, para conversar.

Tem dias que é só um “Obrigada por estarem aqui”.

Outros dias, é um longo papo sobre sonhos, medos, desejos. E, embora elas não respondam com palavras, respondem com vida. Com folhas novas, com flores inesperadas, com raízes que se firmam cada vez mais.

As plantas me ensinaram sobre paciência. Sobre respeitar o tempo das coisas. Sobre como nem tudo precisa de pressa. Que crescer exige calma, exige espera, exige cuidado.

E eu, que sempre fui ansiosa, comecei a aprender a desacelerar.

Elas também me ensinaram sobre resiliência. Já viu como uma planta pode parecer murcha, quase sem vida, e mesmo assim, com um pouco de carinho, voltar a florescer?

Isso me inspira. Me mostra que, mesmo nos dias mais difíceis, ainda há esperança.

Por isso, sim, eu converso com minhas plantas.

E não tenho mais vergonha de admitir. Porque sei que, de alguma forma, há uma troca verdadeira ali. Um vínculo que vai além do racional.

E, se você ainda não experimentou, te convido.

Sente-se perto das suas plantinhas. Olhe para elas. Respire fundo. Fale. Conte algo do seu dia. Diga o que sente. Pode parecer estranho no começo, mas você vai perceber como faz bem.

Porque no fundo, conversar com as plantas é uma forma de conversar com o coração.

E talvez você descubra, assim como eu, que nunca esteve tão bem acompanhada.

E talvez você esteja se perguntando: mas por que conversar com plantas? O que elas podem me dar que uma pessoa não pode?

A verdade é que, muitas vezes, o que a gente precisa não é de conselhos, de soluções, ou de explicações.

Às vezes, tudo que queremos é ser ouvidos. Sem interrupções, sem julgamentos, sem aquele peso de ter que corresponder a expectativas. E as plantas… elas fazem isso com maestria. Elas simplesmente são. Presentes, silenciosas, acolhedoras.

Descobri, ao longo do tempo, que quando falo com elas, estou praticando algo muito raro nos dias de hoje: a escuta interna.

conversar com plantas

No meio de tanto barulho, tanta informação, tanta urgência, parar por alguns minutos para me conectar com algo vivo, natural, me traz de volta para mim mesma.

As plantas são mestres da presença.

Elas não têm pressa, não têm ansiedade sobre o futuro, não se preocupam com o passado.

Elas apenas vivem, aqui e agora. E estar com elas me ensina a fazer o mesmo.

Lembro de uma fase difícil, em que tudo parecia dar errado.

Meus planos não estavam indo como eu imaginava, eu me sentia perdida, sem direção. Foi nessa época que comecei a cultivar orquídeas. Quem já cuidou de uma orquídea sabe o quanto é preciso paciência e dedicação. Elas não florescem o tempo todo, e às vezes demoram meses, até anos, para mostrar sua beleza. E, ainda assim, continuei cuidando, regando, conversando.

“Você vai florescer quando for a sua hora”, eu dizia.

E foi assim que percebi: eu também precisava acreditar nisso sobre mim. Que mesmo que eu ainda não visse resultados, havia algo crescendo dentro de mim. Algo se preparando para florescer.

Foi mágico o dia em que a primeira flor apareceu. Pequena, tímida, mas cheia de força. Eu chorei de emoção, porque era como se aquela flor fosse um reflexo do que estava acontecendo comigo. Eu também estava florescendo, devagar, mas com profundidade.

Conversar com minhas plantas virou uma forma de oração. De meditação. De reencontro.

Às vezes, levo um chá, sento perto delas, e simplesmente deixo o tempo passar. Sinto o vento, escuto os passarinhos, toco as folhas… e ali, nesse espaço sagrado, sinto que tudo faz sentido.

Já perdi algumas plantas também, e isso doeu. Mas aprendi que a morte também faz parte do ciclo. Que mesmo quando algo vai embora, deixa sementes, memórias, ensinamentos. Cada planta que passou pela minha vida deixou um pedacinho de si, e me ajudou a crescer de alguma forma.

E tem algo bonito nessa relação: as plantas não exigem perfeição.

Se você errar na rega, se esquecer um dia de dar atenção, elas não te abandonam imediatamente. Elas mostram sinais, pedem ajuda, esperam. E você aprende a observar, a entender. Aprende que o cuidado é uma troca, feita de tentativas, de erros e acertos.

E isso me ensinou muito sobre amor.

Amar, como cuidar de plantas, é estar presente. É perceber os detalhes. É ter paciência com o tempo do outro, e também com o seu próprio tempo. É aceitar que, às vezes, tudo o que o outro precisa é de luz, de espaço, ou de um pouco mais de atenção.

Eu secretamente converso com minhas plantas porque, nesse diálogo silencioso, me tornei uma pessoa melhor. Mais sensível, mais consciente, mais grata.

Hoje, ao acordar, a primeira coisa que faço é abrir as janelas e dizer: “Bom dia, minhas meninas”. E é incrível como isso muda o tom do meu dia. É um gesto simples, mas que me conecta com algo maior.

Se você nunca falou com suas plantas, te convido a tentar. Não precisa ser nada elaborado. Um “como você está?” já basta. Observe. Sinta. Permita-se viver essa experiência sem vergonha.

Afinal, como dizia uma frase que li certa vez: “As plantas não falam, mas dizem tudo”.

E eu, no silêncio do meu cantinho verde, aprendi a escutar.

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